200 gr.
de António Júlio
Produção MUGATXOAN 2006 / Arteleku Gipuzkoako Foru Aldundia / Fundação de Serralves
200gr. É uma forma de exibição não assumida.
Se numa embalagem não existisse senão a designação de peso, nada ficaríamos a saber acerca da natureza do seu conteúdo. Esperaríamos pela sua revelação. Ansiaríamos por abrir a embalagem e conhecer o produto. E poderia ser que o produto do interior fosse outra embalagem com a designação de peso, que nos instigasse a continuar.
200gr. apresenta uma verdade escondida. Muitas vezes revelada, muitas vezes distorcida. É um lugar de existência.
Há uma tela de projecção que separa o público do performer, ou intérprete. Nessa tela passa-se tudo o que é possível ver. Ao espectador é vedado o acesso ao que se passa, mas este pode ir adivinhando, pelos sons que ouve, pelo que imagina, pelo que projecta. Na tela, sempre em sombra chinesa, vão passando personagens; conta-se pequenas histórias, ou histórias interrompidas - momentos que se relacionam uns com os outros por todos partirem de um só corpo, do mesmo sempre, que se multiplica, mutila, amplia, recorta ou reinventa. joga-se com surpresa, num tempo suspenso, sem palavras ditas, nem música tocada. Tudo parte do silêncio e da luz para a obscuridade. É um espectáculo visual, minimal e sensível que deixa ao espectador a possibilidade de lhe acrescentar sons, palavras ou expressão a um rosto sem identidade. O que eu apresento, do que eu falo é de identidade, da minha, de mim. Mas essa identidade é sempre a construção que faz o espectador. Não digo o meu nome, uso-me como um qualquer. E as respostas que tenho tido são de quem ao ver um, vê-se a si próprio em projecção e apõe-lhe as suas próprias histórias.
200gr.
by António Júlio
Production MUGATXOAN 2006 / Arteleku Gipuzkoako Foru Aldundia / Fundação de Serralves
200gr. is a way of exhibition that's not fully assumed. If on a package we hadn't but the inscription of the weight we wouldn't know nothing about the nature of its content. We would wait for its revelation. We would long to open the package in order to know the product. And it could happen that inside we found another package with another weight designation, that would make us want to go on. 200gr. presents a hidden truth. many times disclosed, many times distorted. iIa place of existence. There's a screen that separates the public from the performer. It is on that screen that everything to be seen takes place. The viewer is blocked to see what's happening behind he screen, but he can guess, can go along with the things he hears, the things he can imagine, the things he can, himself, project. On the screen, some stories are told, little stories, cut stories, moments that relate to a single body that multiplies itself, that suffers mutilation, grows wide and reinvents itself. You shouldn't wait for words, you shouldn't wait for music - you might be imagining those things. There is a suspended time. Everything comes from silence and goes from light to darkness. iIs a visual show. Minimal and sensitive. That lets to the viewer the possibility of adding an expression to a face without identity. Yes, I intended to talk about identity. I present myself and show things that can compose a portrait of what I am. But those things are the construction left on the hands of the viewer. I don't say my name, I use myself as anyone. and what I've been discovering by showing this piece is that people whatching it look for themselves around their own stories.
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